Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.

Franz Kafka, "Aforismos"


quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

O Reino - parte V

Passava entre as fechadas ruas pensando “quantos deles defendi eu para agora esquecido ser”. Nunca os lugares lhe pareceram tão longos, os caminhos tão sós em companhia morta. Pensamentos entrando e saindo sem em nenhum se debater, e todas aquelas portas, quantas histórias, quantas vidas como ele foram já caladas, quantos gritos foram já queimados, quantos haveria para o ser ainda?
Agora não havia perguntas, lamentações de nada serviam, de nada sentia-se arrependido, tinha a razão como aliada. Apenas a pura certeza de um futuro que não haverá com um passado bem real de presente incerto, ou não fosse a injustiça toda dele e de toda a gente.
Apenas uma redonda pequena e brilhante ilha branca passeava constelações inexistentes num escuro mar espelhado, outros chamam-lhe céu. Eu não sei com o Inferno a subir no horizonte de quem olha certo, atingindo essa Lua que não merece através de cadentes contrárias.
Todos quanto o guiavam impacientes seguiam, “Chefe vai largar moeda” “bom mês nos espera” riam outros. Ninguém lhe valia, só o suspiro dos seus lembrara que também era humano, mais nenhum olhar e toque seria feito, abraçado, devido a quem manda.

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