Que sei eu das coisas
se nem coisa alguma fui ou sou.
Eu, que não mais que coisa nenhuma
em nada preenchido, em nada conseguido
se não apenas pelo sonho formado do que já não é,
existindo apenas na minha imagem, única real,
e, por em nada me preencher faço-o sem saber.
Sonho, sonho criando e sendo o que não sou nem quero ser,
as dúvidas que alimento e não encontro.
Talvez por delas nada saber e como gosto do que não sei e não conheço
e espero nem descobrir,
tudo para um dia, ter por final um desígnio mantido.
Meu, erradamente meu,
sendo desse sonho o que de mim verdadeiro ou ilusório possa haver.
A recriação do que se é certo sem o ser
Do que não se sabe sabendo.
Mas que pode tudo, se não certo ser?
Sinto das coisas algo que não é meu
e apenas por meu não ser as sinto,
sinto-as com todas as forças de quem não as sente mas ama,
com a força de gritar sem lábios mexer, apenas fingindo que beija.
Todos os meus sonhos e medos,
todos eles vistos em algo, diferente, belo, real.
E choro, choro hoje por outros,
sem saber ao certo se os há,
diferentes, como eu.
Possam eles também me sentir como eles sinto
duma forma que não minha fosse mas de todos
(como de todos gostaria que fosse)
Sentindo a pena de igual em coisa nenhuma ser,
portanto, igual e diferente em toda a plenitude desconhecida.
Mas todos,
todos eles fugindo do que são
em consciência de não saberem do que fogem,
fazem-no sem fazer
apenas porque longe estão.
1 comentário:
O crocodilo gostou deste blog.
Enviar um comentário