Não é necessário que saias de casa. Fica
à mesa e escuta. Não escutes, espera apenas.
Não esperes, fica em silêncio e só. O mundo
virá oferecer-se a ti para que o desmascares,
não pode fazer outra coisa, extasiado, ´
contorcer-se-á diante de ti.
Franz Kafka, "Aforismos"
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Os Quadros - "Still life with Gingerpot - Piet Mondrian"
“As sombras nadam em objectos caídos, traços soterrados em algo que já não o é, num sítio que não existe, por uma razão que nunca houve. Todos os sentimentos, todas as figuras deparo. Quantas vontades há ali? Ali onde não as vejo, onde nem o Sol e a Lua ousam alternar olhares.
Onde nem ver se chama mas sim um sonho que toma conta dos olhos. Quem me dera sonhar desse jeito, chegar onde nem as estrelas alumiam, onde nem com uma infinidade de motores seria capaz, um ponto além do imaginado, verdadeiramente real.
Essa imagem é invadir cidades lineares ou disformes, quem sabe, as duas juntas, nos seus extremos subtis e únicos. Encontrar finalmente uma ordem natural, regente, sem apoios, nada mais que um corpo encerrado numa alma, nunca o contrário, toda essa alma em vontades suas, deixando as de outros com quem de direito. Viver seria voar sentido o vento a bater e empurrar uniformemente, numa cantiga de lugares novos e empolgantes.
O Canto faria verdadeiramente sentido e todas as palavras seriam poucas, mas, mais que belas em redor, encadeadas em novos significados para novas experiências. A minha cabeça levitava e rodaria em movimentos espontâneos, meus, genuinamente meus, fechando e abrindo os olhos, respirar seria nascer a cada momento para prova de vida, um agradecimento celeste.
Mas agora sigo. Há uma rua, edifícios caídos, um pódio azul e partido esperando um único vencedor. O Sonho acabou. Agora sei, isto é a Terra.”
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